segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Scaphyglottis - "Língua concava"

Scaphyglottis é um gênero botânico pertencente à familia das orquídeas (Orchidaceae). Este gênero, que compreende pouco menos de setenta espécie, é o resultado da fusão de diversos gêneros descritos em épocas diversas. Caracterizam-se pelo hábito de seus pseudobulbos crescerem acrescentando novos pseudobulbos sobre o ápice dos antigos, e eventualmente também em sua base, e pelas flores cuja coluna apresenta prolongamento podiforme, ou seja, em formato de pé. Muitas das espécies são extremamente parecidas e difíceis de distinguir, sendo algumas poucas claramente distintas. Somente algumas possuem cores vistosas.





  • Distribuição geográfica:

Este gênero compreende pouco menos de setenta espécies  distribuídas por ampla área que vai do sul do México até o sul da Bolívia e por todo o Brasil excetuada a região sul, desde o nível do mar até grandes altitudes nos Andes. Existem ainda em diversas ilhas do Caribe, sendo ali, usualmente, espécies endêmicas. Considera-se o sul da América Central, onde a maioria das espécies ocorre, o seu centro de dispersão.
São plantas epífitas, ocasionalmente rupícolas, que costumam formar grandes conjuntos desorganizados, mais ou menos ascendentes ou também pendurados dos ramos das árvores. Habitam tanto as florestas quentes e úmidas de baixa altitude do litoral e da Amazônia e, com menos frequência, florestas secas dos planaltos. Poucas espécies são ocasionalmente encontradas em florestas de altitude cheias de neblina matinal nos Andes e Costa Rica, geralmente em locais mais abertos e iluminados ou no alto das árvores.


  •  Morfologia:

O tamanho das plantas varia bastante. Existem espécies muito delicadas ou bastante robustas, que pouco passam de alguns centímetros ou capazes de chegar a quase um metro de altura. Entretanto, todas apresentam pseudobulbos alongados e estreitos, protegidos na base por inúmeras Baínhas efêmeras, que permanecem por algum tempo depois de secas, sobrepostos em cadeias, nascendo uns dos ápices dos outros, ocasionalmente de suas bases, comportando até três folhas apicais. As folhas costumam ser pouco carnosas, estreitas e longas, algumas espécies apresentam folhas bastante carnosas inflorescência brota das extremidades dos pseudobulbos e, diferente da maioria das orquídeas que geralmente que só florescem uma vez por pseudobulbo, em Scaphyglottis brota novamente por diversos anos seguidos nos pseudobulbos mais antigos. Por outro lado, como os novos pseudobulbos também brotam do mesmo local nas extremidades dos antigos, formando uma série de pseudobulbos encadeados uns sobre os outros, acabando por assumir a aparência de um único caule, a impressão que se tem ao observar as flores é a de que estejam ao longo dos nós desse caule, e não nos topos dos pseudobulbos individuais. As inflorescências podem ser racemosas ou paniculadas, com uma, poucas ou muitas flores aglomeradas ou espaçadas, simultâneas ou em sucessão, de cores discretas, raramente vistosas.

As flores são pequenas, geralmente brancas, creme, verdes, róseas, mas sempre pálidas e discretas, com exceção anotada para as flores do anterior gênero Hexisea, em sua maioria vermelhas; as pétalas e sépalas apresentam comprimentos aproximados porém as pétalas costumam ser mais largas que as sépalas, e o labelo usualmente é o maior dos segmentos florais, em regra de extremidade reflexa, preso ao pé proeminente da coluna e apresentando mento, frequentemente articulado, algumas vezes soldado a ela. A antera é terminal e contém quatro ou seis polínias.




Distinguem-se do grupo de gêneros mais proximamente relacionados, do qual Jacquiniella é o mais conhecido representante, pois estes últimos apresentam pseudobulbos caulíneos recobertos de folhas alternadas espaçadas, e flores cujas colunas são ápodas, ou seja não apresentam prolongamento na base, onde fixa-se o labelo.



A maioria das Scaphyglottis é polinizada por insetos de língua curta, uma vez que quase todas as espécies produzem néctar, que acaba por se acumular no mento formado pela base do labelo e pé da coluna. As espécies provenientes do gênero Hexisea são possivelmente polinizadas também por beija-flores que, sabidamente, visitam principalmente plantas de flores vermelhas.

  • Histórico:

O gênero Scaphyglottis foi proposto por Eduard Friedrich Poeppig e Stephan Ladislaus Endlicher, em 1835. Em 1960 Robert Louis Dressler designou como espécie-tipo deste gênero a Fernandezia graminifolia Ruiz & Pavón, que então passou a denominar-se Scaphyglottis graminifolia.O nome do gênero vem do grego skaphe, côncavo ou oco, e glotta, língua, em referência ao formato do labelo de suas flores.

Scaphyglottis


  • Taxonomia:

A presente definição de Scaphyglottis esteve incerta por muito tempo.Há um grupo grande de espécies claramente pertencentes a este gênero, além de algumas outras provenientes da extinção de três outros pequenos gêneros, a saber, TetragamestusLeaoa e Hexadesmia, que lhe foram subordinados décadas atrás. Cada um deles com algumas particularidades morfológicas. Em 1993, foi publicado um trabalho com a revisão deScaphyglottis, o qual não inclui os gêneros submetidos a ele após esta data, mas que é útil para esclarecer muitas das espécies similares que compõem este gênero. Mesmo as espécies já pertencentes a Scaphyglottis antes desta unificação de gêneros, também são algo confusas e variáveis, algumas dispersas por grandes áreas, constituindo-se mais em complexos de espécies que espécies claramente reconhecíveis, com muitas intermediárias e apresentando pequenas variações endêmicas que foram descritas como espécies à parte. Seguindo as leis da parcimônia, em regra estas espécies variáveis estão agora classificadas sob um único nome, pois do contrário sua definição e identificação se tornariam muito complicadas. De fato constituem-se em complexos de espécies crípticas.

Foto tirada em Pacatuba, Ceará - Brasil

  •  Filogenia:

Segundo a filogenia de Laeliinae publicada no ano 2000 em Lindleyana por Cássio van den Berg et al., Scaphyglottis, junto com os citados gêneros a ela agora subordinados, forma um pequeno clado inserido em clado maior que também inclui os gêneros Jacquiniella e Acrorchis, e este grande clado por sua vez inserido entre os de Epidendrum e de Meiracyllium, considerado este último pertencente ao mesmo clado cujo gênero mais conhecido é Encyclia.
Em 2004, DresslerWilliam Mark Whitten e Norris H. Williams. publicaram um artigo sobre a filogenia de Scaphyglottis, onde mostram que as espécies de ReichenbachanthusPlatyglottis, e Hexisea encontram-se inseridas entre diversas espécies de Scaphyglottis nos clados. Para conservar a monofilia de Scaphyglottis, diversas alterações de nomenclatura, com a criação de mais gêneros parecidos, seriam necessárias, portanto sugerindo a unificação de todos estes gêneros em Scaphyglottis.


Na realidade, a definição da maioria dos gêneros aliados a Scaphyglottis sempre foi confusa. Seus limites nunca foram bem estabelecidos e as espécies ora eram atribuídas a um gênero, ora a outro. Como a variação genética entre as espécies desses gêneros é pequena, dificultando o esclarecimento exato dos relacionamentos entre eles, e também pela confusão entre o limite na definição morfológica desses gêneros, foi consensual entre a comunidade científica sua unificação.


  • Cultivo:

É importante informar-se sobre o local onde cada espécie habita na natureza, pois como há espécies de clima quente e úmido, de clima moderadamente seco, e de clima mais fresco e úmido. As condições de cultivo devem ser adequadas ao local ao qual cada espécie acostumou-se.
A grande maioria das espécies provém de clima quente e úmido e não apresentam dificuldades de cultivo na maior parte do Brasil. As Scaphyglottis de clima quente podem ser cultivadas da mesma maneira que são cultivadas a quase todas as espécies brasileiras, sem tratamento especial em um orquidário misto.
Podem ser plantadas em vasos com substrato bem drenado à base de cascas moídas, cortiça, cacos de carvão e perlita misturados, ou apenas em composto de fibras vegetais de boa qualidade. Podem-se também plantar em placas de fibra ou, quando de climas secos, em pedaços de cascas de árvores e neste caso com regas mais frequentes pois as cascas de árvore secam muito rapidamente.


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