domingo, 6 de julho de 2014

Habenaria

Willdenow, que publicou o gênero Habenaria


Depois de seus estudos em Farmácia, Carl Ludwing Willdenow, prosseguiu seus estudos em Medicina e Botânica na Universidade de Halle, obtendo o titulo de doutor em medicina. Trabalhou como farmacêutico e professor de História Natural no "Collegium medico-chirurgicum". Sendo nomeado em 1801, como membro da acadêmia de Ciências e professor de Botânica  na nova Universidade de Berlim. Trabalhou com plantas coletadas  por Alexander Von Humboldt quando da sua viagem pela América do Sul. E foi Willdenow que publicou o gênero de Orchidaceae Habenaria, em Species Plantarum Editio quarta 4(1):5,44, em 1805, tendo seu lectótipo sido selecionado posteriormente por Kraenzlin como Habenaria macroceratistis Willd. em Bot. Jahrb. Syst. 16:58, em 1892.


 Habenaria macroceratistis Willd. Photo by © Prem Subrahmanyam


O nome do Gênero vem do latim habena, rédea, uma referência ao fato das pétalas de suas flores apresentarem longas divisões que se parecem com rédeas.

Distribuição

O gênero possui cerca de 650 espécies distribuídas por toda área equatorial  e tropical de todos os continentes, do nível do mar até três mil metros de altitude. Habenaria Will. com 153 a 163 espécies (Barros et all. 2010; Batista et all. 2011a), é o maior gênero em número de espécies para a família Orchidaceae no Brasil. Sendo Minas Gerais ( Com 93 espécies) (Batista et all. 2011.) o estado com  maior representatividade. Destacando o Cerrado como principal centro de atividade, incluindo Campos Rupestres do Planalto Central e região sudeste.

No Ceará, segundo o "Flora do Brasil" (Projeto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que engloba um esforço de várias instituições de pesquisas e renomados especialistas), só ocorrem três espécies:

  • Habenaria gracillis Lindl.
  • Habenaria hexaptera Lindl.
  • Habenaria trifida Kunth
Porém o site da ACEO - (Associação cearense de orquidofilos), que tem como diretor técnico o maior especialista e coletor de orquídeas do Ceará, pesquisador da Universidade Federal do Ceará, Luiz Wilson Lima-Verde, lista mais uma espécie:

  • Habenaria urbaniana Cogn. 

Habenaria cf. petalodes - Foto de Douglas Soares

Algumas características do gênero

Dentro de um Gênero tão vasto, as diferenças morfológicas e e hábitos variam na mesma intensidade. Porém, de modo geral as espécies brasileirassão terrestres, de terrenos mais ou menos úmidos, ou então humícolas nas matas sombrias; em áreas ensolaradas, sobre as pedreiras ou campinas. 

Em vez de pseudobulbos, apresentam túberes subterrâneos que crescem depois da floração tornando-se responsáveis pela sobrevivência das plantas, cuja parte visível perece depois da floração. O caule e folhas podem ser de tamanhos muito variáveis, desde alguns centímetros, até mais de dois metros de altura. A inflorescência é apical e apresenta de uma a muitas flores, normalmente verdes ou brancas, mas podendo também serem de outras cores, notadamente amarelas. O labelo em regra é prolongado em longo calcar, raramente sem.
A principal característica desse gênero, com raríssimas exceções, está nas pétalas de suas flores, freqüentemente bipartidas até perto da base, às vezes trilobadas.



Habenaria johannesis 

Histórico


O gênero Habenaria, bem como a extinta subtribo Habenarinae foram muito pouco estudados até hoje. Aparentemente Habenaria será subdividida em diversos gêneros. Análises recentes de DNA ainda tem dificuldades em determinar exatamente dos limites de muitos gêneros subordinados às subtribos Orchidinae e Habenarinae, assim sendo, a antiga subtribo Habenarinae foi momentaneamente abandonada, subordinando provisóriamente todos estes gêneros à Orchidinae, até que se possa dividi-los com segurança.
Desde 1982 o polonês Szlachetko, especialista em orquídeas terrestres, tem estudado este gênero e propôs muitos novos gêneros para sua divisão, entretanto ainda não há consenso como esta será feita, assim, da mesma forma, por enquanto estamos tratando como sinônimos muitos dos novos gêneros já criados para subdividir Habenaria.

A diminuição do número total de espécies também é prevista uma vez que inúmeras são as espécies mal esclarecidas que possívelmente devem tornar-se sinônimos no futuro.


Habenaria medusa Kraenzl.

HABITATS

Cerrado – O Cerrado é o Bioma que apresenta o maior número de espécies de Habenaria no país. O Cerrado é formado por um mosaico de vegetações que variam desde o cerradão até o campo limpo. Os ambientes mais abertos, como os campos sujos e os campos limpos são os que concentram o maior número de espécies. 
  • Veredas e campos úmidos – Dentre os vários tipos de vegetação associados ao Bioma Cerrado os campos úmidos são o que concentram o maior número de espécies de Habenaria. Esses campos podem ser estacional ou permanentemente úmidos. Frequentemente ocorrem associados a pequenas elevação regulares conhecidas como murundus.
  • Campos rupestres – Ocorrem principalmente em Minas Gerais na Cadeia do Espinhaço e em Goiás. A vegetação é semelhante a um campo sujo, mas ocorre em meio a afloramentos rochosos. O número de espécies de Habenaria que ocorre nesse tipo de vegetação é grande, destacando-se a Habenaria guilleminiicom um calcar de 1-3 mm e a Habenaria caldensis.
  • Mata Atlântica – São poucas as espécies de Habenaria que ocorrem em matas e na Mata Atlântica. A maioria das espécies tem as folhas bem desenvolvidas. Uma espécie típica e comum desse ambiente é a H. josephensis.
  • Matas Nebulares – são matas que ocorrem em altitudes mais elevadas nas montanhas e que embora não estejam associadas a um curso de água se mantém úmidas devido a quantidade de neblina. São poucas as espécies de Habenaria desse tipo de vegetação, destacando-se a H. umbraticola.
  • Campos de Altitude – São campos limpos ou sujos que ocorrem em áreas acima de 1.500 m em áreas de Mata Atlântica. Uma espécie típica desse ambiente é a Habenaria paranaensis, comum na região do Itatiaia a na Serra dos Órgãos no estado do Rio de Janeiro.
  • Além dos habitats anteriores algumas espécies também ocorrem em matas secas como a H. cryptophila, enquanto outras são aquáticas sendo encontradas na beira de lagoas ou rios, como a H. repens. Algumas poucas espécies são beneficiadas pela ação humana, ocorrendo em áreas antropizadas como pastagens e beira de estradas, destacando-se nesse caso a H. petalodes.

Habenaria rhodocheila



ECOLOGIA E BIOLOGIA REPRODUTIVA 


As espécies de Habenaria não possuem órgãos de armazenamento bem desenvolvidos como pseudobulbos ou raízes tuberosas, de modo que conseguem crescer e florescer apenas no período chuvoso quando há disponibilidade de água. As plantas precisam crescer durante uma ou mais estação para formar um túbera com nutrientes armazenadas que irão sustentar uma nova floração. Após a formação e amadurecimento dos frutos as plantas secam e permanece apenas a túbera subterrânea que sustentará uma nova brotação e crescimento na próxima estação.

Considerando o número de espécies, ainda são poucos os estudos sobre a biologia floral e reprodutiva do gênero. No Brasil destacam-se os trabalhos de Rodrigo B. Singer. Os estudos desse pesquisador mostraram que algumas espécies são polinizadas por ‘pernilongos’ e mariposas noturnas. Esses insetos, atraídos pelo perfume noturno das flores, introduzem a probóscide no calcar para coletar o néctar. No caso da H. parviflora, o viscídio tem uma forma especial com um encaixe que se adapta a probóscide do polinizador, facilitando a fixação e remoção do polinário.


Habenaria longicorniculata


Discussão

Mesmo com a importância florística desse gênero no Brasil, há grandes lacunas de conhecimento. Um dos fatores que dificultam o estudo é o fato das espécies apresentarem crescimento sazonal. As plantas crescem e florescem no período de chuvas e desaparecem durante o período seco. Permanecendo somente a túbera, subterrânea. O que dificulta muito determinar a distribuição e levantamento de espécies.






Fontes:
<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/>. Acesso em: 06 Jul. 2014
<www.orquifofilos.com>